Noite Cultural – “De Cachoeiro, eu vejo... o meu mundo...”.

Postado em 14/05/2013 por Gilliane Correia Wichello.

Com informações de Profª Beatriz Fraga Soares.

Visualizado 1680 vezes.


Neste ano, Rubem Braga completa cem anos de vida. Morreu, não. Segundo Guimarães Rosa, alguns não morrem, ficam encantados. Braga renasce a cada leitura de seus textos. Ganhou esse poder ao poetizar o cotidiano, ao transcender o medíocre, o piegas e o convencional que permeiam retinas e rotinas. Por isso tudo, o Curso de Letras – Língua Portuguesa, promoveu no dia 25/04/2013, às 19h, na Casa dos Braga, a Noite Cultural – “De Cachoeiro, eu vejo... o meu mundo...”. Esse trabalho faz parte do projeto Projeto Crônica: modéstia à parte, sou de Cachoeiro!

 

Como não dar parabéns para um homem raro como Braga? Ao escolher a crônica como gênero textual, para defender "um sonho de simplicidade", ele subverte o senso comum que confunde ser simples com ser simplório. Descascando as máscaras sociais, busca a essência do sujeito e do mundo. Ler sua escrita é ritualizar o despojamento, o desapego e a elegância do básico. Enfrentar a carranca do velho Braga é preciso, para navegar em águas profundas e se limpar de futilidades.

 

Segundo ele, é bom ter um cão, garantia de amor incondicional; é imprescindível caçar, enamorado, uma borboleta amarela na cidade estressante; é melhor perceber que, no verão, a languidez toma conta das mulheres, que algumas até ronronam ao entardecer; é preciso saber driblar as Teixeiras que a vida impõe para todos; é vital ter a sabedoria do pavão que, só com água e luz, cria um esplendor de cores ao ser espiado com amor e desejo; é importante redescobrir o próprio espaço, sendo um cigano, trocando "o sossego de uma casa pelo assanhamento triste dos ventos da vagabundagem."

 

Vai resistir a esse homem? Faça isso, não. Venha ao nosso encontro. Reviva as memórias de Cachoeiro. Nos seus cem anos de vida, Braga faz cara de bravo, por pura arte. Vale a pena chupar um caju com ele, comer um fruta-pão e, depois, pegar um avião e ver que sempre há  luar acima da tempestade.

 

Para esse cronista, que foi tantos em um - embaixador, correspondente de guerra, jornalista, fazendeiro do ar -, um agrado torto a la Gerais:

 

Vivo em Cachoeiro

Principalmente, nasci em Cachoeiro.

Por isso sou triste, orgulhoso: de granito e mármore.

De Cachoeiro, trouxe prendas diversas que ora te ofereço:

 Rubem, Newton, Roberto,  Sérgio, cajus, ipês e tuins,

Um rio sonso, sinuoso, num some e aparece sem fim.

Um Itabira que em nada acalma as noites quentes da cidade.

Pios variados que abrem estranhas  temporadas de caça.

Cachoeiro antigo é apenas uma fotografia na parede,

Mas como dói.