É doce cantar o mar: o centenário de Dorival Caymmi

Postado em 19/11/2014 por Gilliane Correia Wichello e Luciana Ferrares Roli.

Com informações de Coordenação do curso de Letras/Língua Portuguesa.

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Dia 7 de novembro, alunos, professores e coordenação do curso de Letras/Língua Portuguesa apresentaram o sarau “É doce cantar o mar: o centenário de Dorival Caymmi”. Durante cerca de uma hora e meia, as marinhas do patriarca da família Caymmi, ‘costuradas’ por diversos textos sobre o mar, encantaram a todos que compareceram ao auditório Pe. Ângelo Brusco, no Centro Universitário São Camilo/ES.

 

Caymmi, para muitos, é o “Rubem Braga da música”. Mesmo com suas harmonias sofisticadas, ele sempre foi a síntese da simplicidade. Por meio de suas canções, fica comprovado que nosso Dorival é o requinte que está, e que mora, na simplicidade. No entanto, atenção! Simples, aqui, não significa simplório. Simples é o essencial, o fundamental. Até as tão comentadas harmonias sofisticadas de Caymmi, que, anos mais tarde, estariam na Bossa Nova, também não deixam de integrar o “pacote de simplicidades”, mesmo que, à primeira vista, ou “à primeira ouvida”, sofisticação e simplicidade pareçam palavras com significados opostos. Sofisticação, aqui, não significa algo inacessível ou incompreensível, mas belo, equilibrado e exato.

 

E por falar em exatidão, foi o próprio Caymmi que, em entrevista à antiga “Revista da Música Popular”, disse que sua meta era a “função exata da canção”, cuja inspiração foi a leitura, entre outros, de Drummond, Neruda e Bandeira, além da música de Mozart, Fauré, Bach e do folclore da Bahia. E é essa sensação do “exato”, do pontual, do irretocável que temos ouvindo esse mestre. Comparando-o com outros compositores, vê-se que ele não compôs muito, mas o que está aí é “joia raríssima”. Tudo inteiro e completo. Se, como dizem, ele levava muito tempo para concluir uma canção, é porque buscava, com certeza, a exatidão. Nada sobrou, nada foi pouco. Foi, simplesmente, exato. Caymmi é clássico. É atemporal.

 

E sua atemporalidade ficou comprovada no sarau em homenagem a seu centenário, em que foram escolhidas apenas canções sobre o mar, uma de suas maiores paixões. Quem cantou o mar melhor do que Caymmi? Ninguém!, repetimos em coro. A “Suíte dos pescadores (Marcha dos pescadores)” abriu e encerrou a noite: Minha jangada vai sair pro mar / Vou trabalhar, meu bem-querer / Se Deus quiser / Quando eu voltar do mar / Um peixe bom eu vou trazer / Meus companheiros também vão voltar / E a Deus do céu vamos agradecer (...)”. Na sequência, desfilaram muitas outras canções inesquecíveis, como “Pescaria (canoeiro”), “Festa de rua”, “Dois de fevereiro”, “Festa de rua”, “Morena do mar”, “A lenda do Abaeté”, “O vento”, “O bem do mar”, “O mar”, “Rainha do mar”, “Sargaço mar”, “Quem vem pra beira do mar”, “Noite de temporal” e “É doce morrer no mar”. Entre os escritores escolhidos para um ‘diálogo’ com Caymmi, além de Jorge Amado e um fragmento de seu “Mar morto” [“(...) vinda do forte velho, vinda do cais, dos saveiros, de algum lugar distante e indefinível, uma música confortadora (...) diz que é doce morrer no mar...], o sarau contou com a “presença” dos portugueses Sophia de Mello Breynner Andersen, Fernando Pessoa e Florbela Espanca, dos brasileiros Manuel Bandeira, Elisa Lucinda, Viviane Mosé, Cecília Meireles, Rubem Braga e Castro Alves, do francês Charles Baudelaire, além de Ernest Hemingway e Eduardo Galeano. Ao fim, ficou a certeza de que “é doce e revigorante cantar o mar”, principalmente se esse mar for o de Caymmi, nosso “Buda Nagô”, como disse Gilberto Gil.