“’É Melhor morrer do que perder a vida’: a literatura, a música, o golpe de 64 e a repressão”

Postado em 18/03/2014 por Gilliane Correia Wichello e Luciana Ferrares Roli.

Com informações de Coordenação do curso de Letras/Língua Portuguesa.

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Por Fábio Brito

 

Em 31 de março, o golpe militar – um crime contra a democracia brasileira – completará 50 anos.  Como lembrar essa data? De um lado, há os alienados que, em pleno séc. XXI, ainda pensam nesse golpe como um ato heroico; de outro, as pessoas que, lúcidas e de olhos bem abertos, não deixam o senso crítico de lado e enxergam-no como um crime, um terror, uma “página infeliz da nossa história”. Esquecer? Jamais!

 

Tendo o apoio de muitos, como boa parte do empresariado e dos meios de comunicação, a ditadura enfrentou resistência – e que resistência! – de escritores, dramaturgos, músicos, cineastas e atores, entre outros, que, como ninguém, souberam “usar as armas mais bonitas”¹ no combate às atrocidades do período ditatorial. Pagaram, é claro!, um preço alto porque souberam resistir e denunciaram, por meio da arte, o sofrimento por que todos passaram e os desmandos cometidos. Não faltaram atos de brutalidade explícita dos ditadores, mas nossos artistas – bravos artistas! – resistiram e deixaram para a posteridade um legado riquíssimo, entre poemas, canções, filmes e peças teatrais, por exemplo. Foram fortes! Parafraseando Hiroshi, citado por Eugenio Mussak, nossos artistas puderam mostrar que a brutalidade não é forte, como pensam muitos. A delicadeza, sim, requer muita força. Mostraram ainda que tudo é mais real quando é mais poético.

 

E, para mostrar, por meio da arte, a realidade de um “Brasil sob as botas da ditadura”, o curso de Letras do Centro Universitário São Camilo/ES organizou e apresentou, dia 14 de março, o sarau “’É melhor morrer do que perder a vida’: a literatura, a música, o golpe de 64 e a repressão”. O evento marcou a terceira edição do “Dia da Poesia”: nos anos anteriores, as homenagens voltaram-se à mulher e ao centenário de nascimento do poeta Vinicius de Moraes’, nosso “Poetinha”.

 

 “Cantando” a liberdade de forma sutil, irônica, poética e delicada, alunos e professores, por meio da prosa, da poesia e da música, passearam – numa praça e numa redação de jornal, o cenário do evento - por diversos textos que não só fizeram história, mas estão gravados, de forma indelével, na alma de todos nós.  Thiago de Mello, Regina Zappa, Zuzu Angel, Miltinho, Chico Buarque, Gonzaguinha, Nara Leão, Milton Nascimento, Ronaldo Bastos, Affonso Romano de Sant'Anna, Sidney Miller, Ferreira Gullar, João Bosco, Aldir Blanc, Paulinho da Viola, Frei Betto, Gilberto Gil, Alex Polari, Ignácio de Loyola Brandão, Ivan Lins, Vitor Martins, Cacaso, Torquato Neto, Maurício Tapajós, Paulo César Pinheiro, Sophia de Mello e Geraldo Vandré foram, em verdade, os condutores do sarau. “Receberam” os convidados oferecendo o que de melhor eles têm: sua arte. Os versos de “Os estatutos do homem”, do grande poeta Thiago de Mello, deram o mote: “A partir deste instante / a liberdade será algo vivo e transparente / como um fogo ou um rio, / e a sua morada será sempre / o coração do homem”. Ao fim do encontro, todos tiveram a certeza de que a arte liberta.

 

Normalmente, na correria louca do dia a dia, não damos ao outro, como disse a poeta Adélia Prado, o que de mais precioso temos: o tempo. No sarau, ao contrário, o curso de Letras ofertou ao público que compareceu ao auditório Pe. Ângelo Brusco um tempo preciosíssimo para a troca de delicadezas e sensibilidades. Ofertou arte, que nos espiritualiza, que nos torna humanos, que nos leva a Deus.  

 

¹ Da canção “Tudo é amor”, de Cazuza e Laura Finochiaro.